Crianças Sobredotadas

É, em primeira análise, necessário distinguir a criança habitualmente sobredotada da criança demasiadamente estimulada ou forçada, o que é muito mais frequente. a competição social dos pais através do filho, as imposições de aprendizagem excessivas e muito precoces podem atribuir-lhe uma aparente precocidade que não se reflectirá ao longo dos anos.

Através dos estudos epidemiológicos realizados verifica-se que a maior parte destas crianças são rapazes, apresentando uma boa saúde física, sendo o seu desenvolvimento situado num percentil elevado.

A nível das aptidões escolares se, por um lado a criança revela um avanço escolar, transpondo classes, por outro, existem uma percentagem significativa de crianças que têm várias dificuldades, podendo ir até ao insucesso escolar paradoxal.

Verifica-se uma grande apetência pela leitura, já que, para  além da aprendizagem precoce, estas crianças são grande parte delas grandes leitoras.

Há uma tendência para o isolamento, as crianças preferem realizar actividades que não requeiram interacções com os outros (jogos de elaboração, de construção...), ainda que este isolamento não reflita uma retirada social, já que há uma alternância com momentos de maior interacção social.

Por estar presente um desvio entre a maturidade intelectual demasiado precoce e outros sectores de desenvolvimento infantil, podem-se verificar algumas dificuldades.

De facto, do ponto de vista intelectual a criança sobredotada está em constante desiquilibrio relativamente à sua faixa etária, uma vez que os seus gostos e interesses levam-na a integrar-se em grupos de crianças mais velhas, mas a sua maturidade física e afectiva a apróxima das crianças da sua idade. Em contexto familiar também pode encontrar-se esta desarmonia entre a capacidade, desenvolvimento da criança e expectativas ou intenções por parte dos pais.

O seu desenvolvimento cognitivo normalmente não acompanha o seu desenvolvimento psicomotor pelo que, por exemplo, ao aprender a ler, a criança, por imaturidade psicomotora, não é ainda capaz de escrever. Este facto pode desencadear sentimentos de impaciência e intolerância face à escrita.

O desvio interno e social da criança  sobredotada pode ser fonte de sofrimento, mas não deve ser considerado como anormal. Podem-se encontrar sinais deste sofrimento na instabilidade e insucesso escolar paradoxal, normalmente associado tanto ao desinteresse como á inaptência para as actividades escolares, nomeadamente quando a criança é mantida numa classe que corresponde à sua idade biológica.

Estas manifestações podem estar ligadas à existência frequente de uma angústia acentuada, já que se tratam de crianças facilmente ansiosas (angústia existencial, de morte, de deus...).